Wicked (2024)

Esse Eu Vi
3 min readNov 19, 2024

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Jon M. Chu entrega nada menos que um magistral espetáculo em sua aguardada adaptação do musical de sucesso

Wicked, a história não contada das bruxas de Oz, é estrelado por Cynthia Erivo como Elphaba, uma jovem incompreendida por causa de sua pele verde incomum, que ainda não descobriu seu verdadeiro poder; e Ariana Grande como Glinda, uma jovem popular, ambiciosa que só quer saber de privilégios e ainda não conhece a sua verdadeira alma.

Se é a melhor ou não isso é bastante questionável, mas que Wicked é a peça de teatro musical moderno (século 21) mais popular em todo o mundo não existem dúvidas e isso pode ser provado em números. O sucesso foi instantâneo a sua estreia, em 2003, e de lá para cá já foi adaptado para 6 idiomas e remontado em mais 16 países. No ano de 2016 ultrapassou 1 bilhão de dólares na Broadway — feito alcançado apenas por O Rei Leão e O Fantasma da Ópera — e no ano seguinte se tornou a segunda peça musical de maior bilheteria da história.

Esse resumo foi para dizer que, obviamente, Hollywood já vinha botando seus gananciosos olhos na peça há bastante tempo. Os primeiros rumores de uma adaptação começaram em 2009 e desde então foi um rebuliço gigante de nomes e divergências criativas, para dizer o mínimo, até a concepção do longa-metragem dirigido por Jon M. Chu. Além do que, Wicked não é uma peça pequena e singela, são muitos efeitos, figurinos, cenários, mobiliários e objetos que ajudam a compor uma visão fílmica da obra.

E a espera foi recompensada. O filme é um espetáculo grandioso e que, apesar da fotografia seguir o padrão atual de filtros com baixas matiz e saturação, consegue ser colorido, vibrante, bem articulado, e o que para mim foi o melhor de tudo, consegue dar mais intensidade às linhas e entrelinhas da história com recursos básicos que o cinema como vantagem em relação ao teatro.

Vou ter que começar falando, mais uma vez, da diferença que faz uma direção de arte física, concreta em vez de digital. Estamos em 2024 e seria injusto dizer que o trabalho de cenografia, efeitos e ambientação digital chegou a um patamar de refinamento que se pode criar belos resultado com eles, tudo vai depender da proposta. Qualquer pessoa que venha a falar que o trabalho feito pelas equipes dos filmes Avatar na construção do planeta Pandora é algo perto de ruim não tem conhecimento algum dos processos digitais de elaboração, colorização e renderização (para dizer o mínimo) ou só tem um péssimo gosto mesmo. Mas quando a fantasia pede um universo que é factível — e se tem muito dinheiro para executá-lo — o resultado em cena, quando bem trabalhado, reflete em primeira instância na estética orgânica, e reflete também no detalhe da interação com os atores. E todas as escolhas de Nathan Crowley, os cenários gigantes e imponentes, as plantas reais, os veículos físicos e sim, os acabamentos digitais, resultaram numa Oz crível e encantadora.

Os árduos trabalhos da equipe de figurino, comandada por Paul Tazewell, e de maquiagem comandada por Frances Hannon também não devem passar despercebidos. É uma produção cara e que parece cara em cena.

Apesar das mensagens progressistas e das músicas-chiclete nunca achei o roteiro de Wicked tão marcante assim, na verdade sempre achei até meio bobo. Mas o filme consegue situar o público em relação ao tempo de Mágico de Oz, além de ter referências diretas a clássica produção de 1939, e consegue, com a presença de Cynthia Erivo no papel da bruxa verde, dar ainda mais subtexto e veracidade para a história contada. O longa encontra espaço, ainda, para fazer referências também à montagem original da Broadway, cultuada por fãs mundo à fora até hoje.

Por último, e não menos importante, a dinâmica de Cynthia Erivo e Ariana Grande em cena é deliciosa. As atrizes conseguem com maestria dar identidade próprias às simpáticas personagens e soltam suas poderosas vozes sem qualquer reserva nos números musicais brilhantes, ágeis e muito bem articulados.

Talvez seja muito cedo para pensar na continuação que abordará a segunda metade da peça, mas por hora, temos um filme robusto, eficiente e encantador. Entra para o seleto hall de filmes musicais que são melhores que suas peças de teatro originais, ao lado de, entre outros, Hairspray — Em Busca da Fama (2007) e Mamma Mia! (2008).

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Written by Esse Eu Vi

Ávila Oliveira - Crítico de cinema desde 2012

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