Tico e Teco: Defensores da Lei

Esse Eu Vi
3 min readJun 1, 2022

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Os crossovers e cameos muito bem empregados em épocas de multiverso: sem qualquer compromisso

“Depois de fazerem sucesso na série Tico e Teco os Defensores da Lei, os protagonistas Tico e Teco foram esquecidos. Anos mais tarde, a dupla retorna quando Teco recebe uma cirurgia computadorizada e pede ajuda para Tico. Reunidos, a dupla vai em busca dos outros integrantes do grupo, onde cada um deles tem um vício diferente por conta da fama. “

Essa animação da Disney veio afiada e incrivelmente recentes em suas cutucadas. É muito difícil não comparar com o famoso Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988) tanto pela temática quanto pela técnica que mistura animações com atores reais. Ele conseguiu com maestria fazer o que o Space Jam: Um Novo Legado (2021) tentou sem qualquer sucesso e carisma ano passado.

Como uma criança que assistiu a série animada dos dois esquilos detetives, admito que foi divertido rever todos aquelas personagens sob novas perspectivas — e acho que esse foi um grande trunfo do filme — tanto em relação ao teor de algumas piadas como da relação entre alguns personagens e suas personalidades na “vida real”. E foi apenas com 28 anos de idade que percebi existem diferenças físicas entre o Tico e o Teco.

O filme é rápido, com piadas ágeis, atuais e que conseguem não ser infantilizadas nem “adultizadas” o suficiente para se tornarem impróprias para crianças. O roteiro perde qualquer coisa, mas não perde a piada. É humor com a própria Disney, com personagens de outros estúdios, com estúdios menores que copiam descaradamente as ideias Disney/Pixar, com estilos de animações datados… basicamente tudo que envolve a história da animação em Hollywood ganhou uma pincelada (e alfinetada) nesse filme. São incontáveis referências de várias épocas que imagino que tenha deixado passar algumas mais contemporâneas, mas até mesmo live actions não foram poupados, como o icônico Sonic Feio e os gatos perturbadores do musical Cats (2019). E por mais que já tenham filmes que fazem metahumor com o desgaste de ideias em Hollywood, essa animação consegue também rir sem soar repetitiva da enxurrada de sequências, remakes, reboots, prequels, e tudo o mais que parece não contribuir com o frescor do cinema norte-americano.

Talvez meu único problema como o filme seja a história do antagonista Peter Pan que aparenta ser inspirada na história real de Bobby Driscoll, o dublador original da animação de 1953. Bobby tinha 13 anos quando dublou a clássica animação, e desde a infância participava de filmes. Assinou contrato com a Disney, mas foi demitido aos 16 anos assim que entrou na puberdade e as mudanças físicas começaram a aparecer. O descarte da Disney e o bullying na escola fizeram com que o ator crescesse em meio a problemas de drogas, álcool e vários outros problemas que culminaram em sua trágica morte aos 31 anos em 1968. Certamente a semelhança não foi inocente, e sim, bem desrespeitosa.

É bom ver como aparições surpresas, referências e crossovers (não sei se os jovens ainda usam essa palavra) de vários universos imaginários diferentes convergem sem qualquer compromisso com o resultado futuro (de roteiros e dos estúdios), embora seja quase inevitável que a animação ganhe uma continuação, vamos ver como até isso vem na piada seguinte.

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Written by Esse Eu Vi

Ávila Oliveira - Crítico de cinema desde 2012

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