RRR: Revolta, Rebelião, Revolução (2022)

Esse Eu Vi
3 min readJun 2, 2022

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Tollywood desconolial contra o minimalismo

“Durante a era britânica Malli, uma pequena garota tribal é levada pelo governador britânico Scott Buxton e sua esposa Catherine contra a vontade de seus pais, índios revolucionários, mas o ocorrido nunca é creditado pelo governo britânico. O governo descobre que Komaram Bheem começou sua busca por ela e pode ser um obstáculo para o exército britânico. O governador e sua esposa anunciam um posto especial para qualquer oficial que possa trazer Bheem até eles.”

Dizer que o filme é uma grande produção de Tollywood implica dizer dentre outras coisas que, para a maioria de nós ocidentais, o filme é exagerado e intenso, em todos os sentidos possíveis. Implica dizer que qualquer pequeno gesto ou ação vira um evento. E esse filme eleva isso à potência máxima. O filme consegue ser efusivo e ao mesmo tempo competente o suficiente para utilizar de escolhas criativas que parecem óbvias para um filme de ação, mas que de alguma forma nunca foram usadas ou pelo menos nunca foram aplicadas da maneira que a produção indiana aplica aqui. São recursos básicos de enquadramentos, closes e slow motion que parecem recursos novos e nunca usados tamanha a clareza e a inventividade em que são usados. Muitas sequências bem pensadas, bem desenvolvidas e bem executadas.

E falando em clareza, é importante também ressaltar a qualidade dos efeitos visuais que superam produções atuais hollywoodianas dos maiores estúdios norte-americanos. Os efeitos do filme ajudam a construir a linguagem visual limpa que o filme usa, onde o espectador consegue ver no detalhe tudo que foi planejado pra cena, sem amontoado de fragmentos e ruídos que estariam ali para fazer volume. A direção de arte é impecável.

O filme é conduzido cheio de carisma por dois dos nomes mais conhecidos do cinema indiano, Ram Charan e N.T. Rama Rao Jr. E a direção é do genial S.S. Rajamouli, responsável pelos gigantescos Baahubali: O Início (2015) e Baahubali 2: A Conclusão (2017).

O roteiro do filme é parcialmente inspirado em uma história real, e é nesse “parcialmente” que mora a liberdade criativa para misturar cultura, fantasia, música e dança num plano de fundo histórico (mas que também permite furos e cafonices sem medida). E é justamente por abordar personagens que pouco se sabe detalhes da existência que deixa a experiência mais divertida, mais lúdica e menos ligada aos “fatos reais”. O filme é incrivelmente coreografado — tantos os incríveis números musicais quanto as acrobáticas cenas de ação. É frenético, é ágil ao mesmo tempo que é bem espaçado e sabe dosar os pontos altos. É um filme enorme, mas que por saber usar esse tempo não satura nem se desgasta.

É descolonial, é alto astral, é naturalista e com reparação histórica, é tudo que eu queria e esperava de um filme indiano que mistura musical e ação.

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Written by Esse Eu Vi

Ávila Oliveira - Crítico de cinema desde 2012

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