O Soldado que Não Existiu (2021)
Um filme contido sobre uma história que quase não existiu
“O Soldado que Não Existiu é um filme baseado em fatos reais. Em meio a Segunda Guerra Mundial, Ewen Montagu (Colin Firth) é um juiz, espião e oficial da inteligência naval da Inglaterra que planejou a operação Mincemeat, além de ser um dos dois agentes que a executou. Os dois oficiais de inteligência planejaram quebrar o controle mortal de Hitler sobre a Europa com um plano criativo e ousado. Na esperança de mudar o curso da Segunda Guerra Mundial e salvar dezenas de milhares de vidas, eles utilizaram um cadáver e documentos falsos para enganar as tropas alemãs.”
Filmes que abordam o lado estratégico de guerras tendem a ser enfadonhos ou maçantes caso o espectador não esteja familiarizado com o contexto inserido, ainda mais se envolvem muitos personagens, muitos lugares e muitas alianças. E por mais que a segunda guerra mundial tenha sido o evento que foi, existiram muitas pessoas que mexeram muitos pauzinhos para ações que poucos foram conhecidas. Mas um roteiro que almeja atingir o maior número possível de espectadores deveria tratar a narrativa partindo do pressuposto de que existem alguém em algum lugar do mundo que vai dar play no longa sem saber de absolutamente nada do que está sendo contado ali. E esse filme se inicia assumindo que todos já tenham em mente alguns dos nomes, lugares e alianças ali apresentados.
Ainda assim, com um pouco de esforço, dá pra segurar a introdução e entender que — mesmo tendo sido baseado em fatos reais — o roteiro é absurdamente surpreendente e a história é “infalível” e cativante. Além da surpresa do enredo em si, acho que o trunfo do filme está em mostrar a fragilidade de decisões em situações de conflito. É meio unilateral e injusto o filme tentar mostrar que tão importante (as vezes ele parece querer dizer que é mais importante) quanto os braços que estão lutando são as mentes que planejam as estratégias do alto de suas cadeiras resguardadas.
O filme é bastante sutil e não se aprofunda na vida dos personagens principais, mas consegue contemplar o suficiente para mostrar o quanto de cada um dos envolvidos na operação (inclusive do falecido) reflete no tom e no teor da delicada operação. Muito interessante também ver que a ideia de usar a desinformação como “arma de guerra” ou estratégica política é algo sempre considerado em conjunturas desesperadas.
De qualquer forma é interessante ver que quando o bicho pega vale literalmente de tudo no amor e na guerra, pelo menos na tentativa.