Luca (2021)

Esse Eu Vi
3 min readJun 19, 2021

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Visual marcante e história sensível marcam o mais novo filme de animação que infelizmente não poderemos ver no cinema.

Situado em uma bela cidade costeira da Riviera Italiana, este novo filme de animação original é a história da passagem da infância para a idade adulta de uma criança que vive um verão inesquecível, repleto de sorvete, massas e viagens intermináveis de scooter. Luca compartilha essas aventuras com seu novo melhor amigo, mas toda a diversão é ameaçada por um segredo muito bem escondido: Luca é um monstro marinho de um mundo logo abaixo da superfície da água.

Pode se preparar para ler por aí que esse talvez seja o filme “menos Pixar” da Pixar. Esteticamente talvez, mas em sua essência é, talvez, um dos melhores e “mais Pixar” feitos até aqui. O diretor italiano Enrico Casarosa é um nome conhecido do departamento artístico da Disney-Pixar, mas é a primeira vez que atua na direção de um longa (ele concorreu ao Oscar em 2012 pelo belíssimo curta La Luna), e ele resolveu buscar inspirações fora do lugar comum do estúdio, nas animações em stop motion e filmes do Hayao Miyazaki.

Desde Viva: A Vida é uma Festa (2017) esse foi sem dúvidas a animação do estúdio mais divertida de se assistir. Muito se falou nos últimos anos de animações também serem para adultos, que é bom que eles também passem mensagens para os pais que estão assistindo com os filhos e tudo mais, mas Luca é, acreditem, um filme bem infantil no roteiro. Infantil por tratar de assuntos como amadurecimento, compromissos, responsabilidades, importância da amizade… de uma forma bem lúdica e simples e sem transcender a alma ou o nosso propósito em vida como fez Soul (2020).

Os visuais são incríveis. A construção da riviera italiana dos grandes planos aos detalhes dá o tom perfeito para o desenvolvimento da história. A direção de arte não se poupou de cores quentes e contrastantes para imprimir na tela o calor litorâneo e tudo casou muito bem. Enrico Casarosa é artista, ele sabe com habilidade expressar sentimentos sem ser necessárias falas (às vezes nem mesmo personagens) e consegue montar ambientações sem precisar de cenários, por assim dizer, apenas com texturas e formas marcantes.

O que sustenta o roteiro é uma mensagem de aceitação que vai sendo montada aos poucos e termina com um final que faz jus à jornada do personagem principal. É uma mistura de Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar (2008), com A Forma da Água (2017) e bem pouco de Me Chame pelo Seu Nome (2017), tudo isso aos moldes padrões Pixar de se contar uma história.

Luca é um filme expressivamente gigante, mas feito dentro de uma pequena e limitada narrativa. Não é o filme mais ousado ou mais profundo da Disney-Pixar, mas também nem precisa ser, não é sua proposta. É a prova de que nem todo filme de animação (falando da Pixar de novo) precisa ser abstrato, existencial e catártico para ser bem sucedido.

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Written by Esse Eu Vi

Ávila Oliveira - Crítico de cinema desde 2012

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