Licorice Pizza (2021)
Até Paul Thomas Anderson acha que estamos precisando dar uma segurada.
Licorice Pizza é a história de Alana Kane (interpretada por Alana Haim) e Gary Valentine (interpretado por Cooper Hoffman) crescendo e se apaixonando no Vale de San Fernando, em 1973. Escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson, o filme acompanha a complexidade traiçoeira do primeiro amor.
Paul Thomas Anderson é um diretor que me intriga muito. Todo trabalho que assisti dele até aqui é carregado de uma densidade de significados, de uma intensidade, que comecei a assistir Licorice Pizza até meio tenso pra ver se não perdia algum detalhe ou alguma mensagem implícita. Mas com os 5 primeiros minutos o filme me desarmou por completo e me colocou um sorriso bobo que ficou estampado da minha cara por mais da metade do filme.
O casal de protagonistas estreantes dá o tom do filme com um banho de carisma e talento. A leveza com que o diretor conduz o filme através deles preenche as duas horas de duração com facilidade. Por mais que seja o seu longa mais sutil, o diretor não deixa de abordar com seriedade as relações humanas — aqui, o amadurecimento como mola-mestre — , cerne de todas as suas produções. A comédia também é recheada de coadjuvantes incríveis que dão vida a personagens reais e fictícios que permeiam pelas vidas dos jovens.
Dá pra perceber que o filme tem muito das lembranças e vivências do diretor, mas ainda bem que Paul tem a mão precisa pra saber transmitir a sua nostalgia para o público e envolver o espectador no enredo em vez de mostrar uma realidade sua sem qualquer preocupação com quem assiste. Licorice Pizza me lembrou de várias séries dos anos 80 e 90 que abordam esse amadurecimento e descobertas do pós-infância, em especial Anos Incríveis (The Wonder Years).
Não sei se gosto de histórias fictícias sobre personagens reais, e aqui os personagens principais têm momentos em comum com algumas personalidades americanas, algo semelhante — em proporções menores — ao que Tarantino fez em Era uma Vez em… Hollywood (2019), inclusive com personagens em comum. Mas, levando em consideração que a fábula de PTA têm as personalidades com elenco de apoio, até isso se torna um elemento a mais para a ludicidade do enredo.
Em tempos complexos, com assuntos complexos e discussões complexas, é reconfortante ver que Paul Thomas Anderson tirou o pé do acelerador e resolveu nos lembrar de que em pelo menos algum ponto de nossas vidas ela pode ser amena, encantadora e despreocupada (ou pelo menos poderia/deveria).