Folhas de Outono (2023)

Esse Eu Vi
2 min readJan 22, 2024

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Aki Kaurismäki pinta belo romance resoluto, mas que esbarra nos detalhes

Numa Helsinque atual, duas almas solitárias em busca de amor se encontram por acaso em um bar de karaokê. No entanto, o seu caminho para a felicidade é cercado de obstáculos — desde números de telefone perdidos a endereços errados, alcoolismo e um encantador cão de rua.

Esse é um filme bem nos moldes de um romance clássico dos anos de Era de Ouro, onde o foco é centrado única e exclusivamente no casal principal e os poucos coadjuvantes que circundam as cenas existem com a mera função de impulsionar a relação dos protagonistas. Porém mesmo com um roteiro enxuto e com uma duração curta, o roteiro consegue tropeçar em alguns obstáculos que se contradizem e impedem a narrativa de amarrar seus arcos.

O maior deles é o uso da tecnologia e da maquinaria quando convém. A produção faz questão de enfatizar o cenário capitalista pós-moderno da cidade onde a trama se desenvolve na cenografia e no design de som. Os protagonistas se veem presos num ciclo de subempregos rodeados de parafernálias e instrumentos que condicionam uma péssima qualidade de trabalho e de vida. Mas esses equipamentos parecem ser inexistentes quando num dos momentos chave do enredo o casal troca telefones e endereços num pedaço de papel, por exemplo, fazendo com que a problemática que toma bons minutos de tela pareça rasa, embora entenda-se o apelo ao romantismo à moda antiga.

Esse mesmo problema também aparece, e dessa vez mais cansativa ainda, quando constantemente os personagens — que parecem ter apenas o rádio como meio de comunicação — ouvem em seus aparelhos de som mensagens sobre o quão violenta a Rússia vem sendo com a Ucrânia. E essa panfletagem política pro-OTAN e anti-União Soviética não adiciona qualquer camada ao texto, é apenas o filme dizendo o quão vilanesca é a Rússia e o quão coitada é a Ucrânia. E ele não tem o menor interesse de esconder ou camuflar isso, é uma postura assumida e sustentada.

Visualmente o filme é um encanto, como é de costume do diretor finlandês. Aki elabora esse “cenário capitalista pós-moderno” com um vislumbre artístico quase onírico, onde as cores e as luzes (e consequentemente as sombras) são importantes para realçar personagens e objetos, bem ao estilo Jacques Demy.

Referenciando outros autores ou não, ou melhor, intencionalmente ou não, é inegável que Kaurismäki conduz suas obras sob o mesmo viés introspectivo, com textos econômicos e com a plasticidade tão importante quanto a mensagem — e vem sendo assim desde a década de 90 — mas ainda assim consegue se mostrar atento ao cenário social e político ao seu redor, mesmo que sob uma ótica simplista.

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Written by Esse Eu Vi

Ávila Oliveira - Crítico de cinema desde 2012

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