Coringa: Delírio a Dois (2024)
Continuação é conflitante, fora do tom e sem qualquer rumo
Coringa: Delírio a Dois é roteirizado, dirigido e produzido pelo cineasta Todd Phillips. Nesta sequência, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) está institucionalizado em Arkham à espera do julgamento por seus crimes como Coringa. Enquanto luta com sua dupla identidade, Arthur não apenas se depara com o amor verdadeiro, como encontra a música que sempre esteve dentro dele. O filme também é estrelado por Lady Gaga, Brendan Gleeson, Catherine Keene e Zazie Beetz.
Desde o anúncio que a sequência do aclamado Coringa (2019) teria uma abordagem musical eu me animei, primeiro porque amo musicais, segundo porque a ambientação setentista do primeiro filme já trazia uma sonoridade de jazz e swing em sua trilha sonora e usou essas músicas como elementos importantes para a ambientação tanto de tempo/espaço quanto dos personagens na narrativa. Infelizmente o resultado ficou uma bagunça.
O foco narrativo do segundo longa é a estadia de Arthur Fleck no Asilo Arkham e seu julgamento quanto aos crimes que cometeu na produção anterior, em meio a isso conhece e se apaixona por Lee, uma interna que partilha das suas mesmas, digamos, redes neurais. Eles se conhecem numa aula de música e canto da instituição e isso concebe uma fantasia musical sincronizada em ambos. Joaquin Phoenix repete seu premiado papel ainda com muita intensidade, e Lady Gaga faz o que pode com o que tem em mãos, digo isso porque a motivação/explicação para a personagem é tão ruim, que só perde para seu desfecho que é pior ainda.
E é essa a piada. O filme parece debochar, através de números musicais visualmente impecáveis e muito bem executados pelo par de atores principais, da própria ideia de ser um musical. Em nada as músicas ajudam no desenvolvimento da narrativa e em nada somam a estrutura do filme. Estrutura essa que é uma confusão. O drama não é aprofundado, o humor pouco tem graça, o romance é sem qualquer química, não dá para entender o que Todd Phillips mirou quando escreveu as linhas do roteiro. A história não desenvolve, o filme parece caminhar lentamente por mais de duas horas numa esteira que termina no exato mesmo ponto onde se iniciou, anulando todos acontecimentos e ações que acontecem (boas ou ruins).
Mas a confusão não é só no argumento, a filmagem também não decide o que fazer com a proposta musical. Ora as apresentações são em estúdios escuros evocando inserções de pensamentos, ora são no que se pode chamar de plano real dos personagens, ora são apenas trilha sonora… e tudo com estilos bem divergentes esteticamente falando que não dialogam entre si e nem no todo. São bem filmados? Sim. Ao menos a plástica não decepciona e cria aqui e acolá frames bem pensados, uma pena que isso não signifique nada olhando para o resultado.
Se tem uma coisa realmente boa é a cena de abertura, embora se apresente em mais outro gênero que destoa do restante. Ela consegue ser um resumo do anterior e uma maneira mais clara de dizer o que o esse longa luta e se esforça para afirmar com todo o circo que monta.