Carnaval (2021)
2021 realmente não foi o ano do Carnaval.
Geralmente um bom roteiro se divide em, no mínimo, três momentos (ou três atos). A apresentação (da história, dos personagens e da problemática), o desenvolvimento (como os personagens vão passar por aquela situação) e a conclusão. Se nos 15 primeiros minutos o filme te entrega exatamente o que vai acontecer nos 3 atos não existe bem um motivo para você continuar assistindo. Bom, talvez exista, talvez a maneira com que os 3 atos vão se desenvolver seja algo inovador, algo atrativo, algo engraçado, algo empolgante… se não, realmente deu tudo errado. E bom, eu não sei nem por onde começar aqui.
O desenvolvimento de personagens é fraquíssimo, é raso. Falta carisma, falta tempo em tela, faltam bons diálogos e às vezes parece faltar vontade de levar tudo aquilo a sério. No início a protagonista descreve pro público cada uma de suas amigas com características tão superficiais que você consegue entender onde cada traço vai ser usado sem precisar de muito esforço. É uma mistura de clichês tão grande que faz tempo que não vejo nem nas comédias mais fracas de Hollywood. E falando em personagens, em 2021 se usar atores não baianos para interpretarem baianos com sotaque (es)forçado não cola mais.
O pouco de carnaval que é mostrado é o carnaval do glamour, e não o carnaval do povo, o carnaval acessível. É um carnaval de gente branca, rica e sem o menor calor que o carnaval de rua entrega. Se estiver procurando um filme com carnaval nas veias recomendo O Paí, Ó (2007), um filme de baiano, feito por baiano, logo, incomparavelmente mais orgânico e autêntico, com pessoas reais e histórias reais.
A falta de baianos na produção faz com que mais uma vez apresente a Bahia como o estado místico do Brasil. O candomblé é usado apenas com ferramenta pra tapar buraco na história sem apresentar qualquer relevância no desenvolvimento da história. Existe uma cena onde uma personagem tem a visão de alguns orixás aparecendo na frente de uma igreja (a igreja de Santa Bárbara pra completar ainda mais o clichêzão) com uma motivação tão boba que chega a parecer uma sátira.
Em alguns momentos o filme é tão preto no branco que parece produção infantil. O espectador entende ao final do filme que tem mensagens a serem passadas até porque o filme não é nada sutil e usa frases como “não julgar o livro pela capa”, “é preciso coragem para amar” para escancarar essas mensagens caso ninguém tenha entendido — o que eu realmente acho impossível. É uma produção sem carisma, sem charme, sem emoção e infelizmente sem graça.