Blonde (2022)

Esse Eu Vi
2 min readSep 28, 2022

--

Uma tragédia bem filmada e ousada, mas extremamente desconfortável

“Baseado no best-seller de Joyce Carol Oates, “Blonde” reimagina a vida de um dos maiores ícones de Hollywood, Marilyn Monroe. Da infância volátil como Norma Jeane até a fama e os relacionamentos, “Blonde” mistura realidade e ficção, explorando a divisão cada vez maior entre o lado público e o lado privado da atriz. Com roteiro e direção de Andrew Dominik, o filme é estrelado por Ana de Armas, Bobby Cannavale, Adrien Brody, Julianne Nicholson, Xavier Samuel e Evan Williams.”

Abusos (femininos) merecem ser reimaginados? Porque o problema maior de “Blonde” é o material que serviu de inspiração para o filme. O livro de mesmo nome da autora Joyce Carol Oates conta e “recria” alguns fatos da vida da icônica Marilyn Monroe. E é preciso muita responsabilidade para contar histórias alheias que não existiram comprovadamente. Ainda mais quando temos um filme dirigido por um homem. São quase três horas de sofrimento e momentos difíceis de uma “mulher pública” que ainda hoje é vista com um filtro limitante em cima de uma grande personalidade.

Ana de Armas está magistral num papel difícil e constrangedor. O filme todo foca na dualidade entre Marilyn e Norma e como ela tentava constantemente buscar o equilíbrio entre as duas personas. E Ana consegue de forma visceral construir essa mulher fragmentada, inteligente, complexa e que transborda em lágrimas com naturalidade.

A direção do filme é visualmente perfeita. O diretor usa de estilos diferentes em momentos diferentes para transparecer o espírito da personagem. Distorções em momentos de vislumbre, filtros mais leves em momentos idílicos e muito preto e branco pra realçar de forma crua e bruta a alma dela. Sem sobra de dúvidas o filme é redutível e poderia ter uns 40 minutos a menos que não impediria sua boa execução — pelo contrário — chegaria a deixar a narrativa mais fluida e contínua.

A discussão sobre os limites da arte sempre existiu e sempre vai existir, mas acredito que uma perspectiva feminina (ou apenas uma perspectiva mais sensível) deixaria o filme mais sagaz, mais instigante e ainda assim não seria menos impactante. Mas tudo aqui é construído pra incomodar, pra gerar desconforto, e isso tem de sobra. De fato, Norma Jeane viveu como uma vela queimando contra o vento, e por mais que haja boas intenções em mostrar seu lado mais humano, existem algumas memórias que talvez seja melhor deixar em paz.

--

--

Esse Eu Vi
Esse Eu Vi

Written by Esse Eu Vi

Ávila Oliveira - Crítico de cinema desde 2012

No responses yet