Better Man — A História de Robbie Williams (2024)
Robbie Williams desnuda sua alma em filme exagerado, cínico e emocionante
Better Man é baseado na história real da ascensão meteórica, da queda dramática e do ressurgimento impressionante do astro pop britânico Robbie Williams, um dos maiores artistas de todos os tempos. Sob a direção visionária de Michael Gracey (O Rei do Show), o filme é contado exclusivamente da perspectiva de Robbie, capturando sua sagacidade característica e espírito indomável. Ele segue a jornada de Robbie desde a infância, até se tornar o membro mais jovem da boyband líder das paradas Take That, até suas conquistas inigualáveis como um artista solo recordista — ao mesmo tempo em que enfrenta os desafios que a fama e o sucesso estratosféricos podem trazer.
Recentemente falei sobre Um Completo Desconhecido, cinebiografia de Bob Dylan filmada por James Mangold, e como sempre abri com a importância de um recorte para a construção do argumento e/ou da importância de um diferencial seja estético ou narrativo, que torne o filme, enquanto FILME, relevante ou pelo menos distinto de outros do gênero.
Mas diferente do filme citado, Better Man tem bastante personalidade ao agregar um recorte (por mais generalista que seja) e um estilo próprio, visual e narrativo, de construir e expor a história. O texto parte desde sua infância, mostrando como a exibida criança procurava uma forma de ser o centro das atenções para receber afeto e reconhecimento que sempre quis que viesse de seu pai, mas que, por serem mais parecidos do que qualquer criança poderia perceber, nunca tinha, pois, seu pai também buscava uma forma de brilhar, artisticamente e pessoalmente. A dublagem do próprio Williams, que também é produtor executivo do longa, mostra o quão íntimo e importante este projeto foi/é para as suas mais diferentes personas. E a voz do cantor vai desnudando sua alma como uma espécie de terapia e como uma prestação de contas como um público fiel que o acompanhou por décadas mesmo em seus pontos mais baixos.
Pois bem, o roteiro se estende por duas décadas seguintes, passando pela Take That até o auge da carreira solo que também foi o auge de uma vida desregrada de drogas, bebidas e anseios sociais que sempre estiveram ali e nunca foram devidamente tratados. Michael Gracey já mostrou em O Rei do Show quem tem a facilidade com a câmera rápida, planos sequências e muitas luzes de palco para criar um espetáculo visual dos grandes, e aqui ele repete muito disso tudo (inclusive existe um número musical aqui que a coreografia é bastante semelhante ao número A Millions Dreams do filme anterior) e amplia o uso de efeitos visuais que operam muito bem nas propostas pensadas.
Tal qual Rocketman, a cinebiografia de Elton John, Better Man usa das músicas do próprio Williams para catalisar a narrativa, não são muitas músicas utilizadas, mas são aplicadas com precisão nos momentos exatos para criar marcações e pontos de virada no roteiro. É um recurso funciona bem mesmo para quem não conhece o trabalho do artista e melhor ainda para quem acompanha sua carreira.
Além de tudo isso — deixei o mais óbvio para o final para endossar que não é apenas isto que torna o filme especial, mas que é, também, uma alegoria que diferencia a produção de todas as outras já feitas sobre cantores, e que harmoniza com todas as outras escolhas cínicas, ácidas e divertidas do longa — o fato de Robbie Willams ser retratado como um primata é a cereja do bolo. A ideia evitou a natural distração com os maneirismo de um ator tentando ao máximo calçar os sapatos da pessoa real, e permitiu pintar com clareza os momentos de introspecção da história que contrastavam com os outros personagens ao seu redor, figuras humanas.
É um filme criativo, é um filme divertido, é engraçado, é emocionante e tem consciência de onde quer chegar e o que tem que fazer para contar bem seu enredo fazendo jus à pessoa que motivou tudo o que ali é feito.