A Filha Perdida (2021)
Mommy issues de mão dupla.
Em A Filha Perdida, Leda (Olivia Colman) é uma mulher de meia-idade divorciada, devotada para sua área acadêmica como uma professora de inglês e para suas filhas. Quando ambas as filhas decidem ir para o Canadá e ficarem com seu pai nas férias, Leda já antecipa sua rotina sozinha. Porém, apesar de se sentir envergonhada pela sensação de solitude, ela começa a se sentir mais leva e solta e decide, portanto, ir para uma cidade costeira na Itália. Porém, ao passar dos dias, Leda encontra uma família que por sua mera existência a faz lembrar de períodos difíceis e sacrifícios que teve de tomar como mãe. Uma história comovente de uma mulher que precisa se recuperar e confrontar o seu passado.
O drama é a estreia da grandiosa atriz Maggie Gyllenhaal como diretora, e, antes de qualquer coisa, todo mundo tem que tirar o chapéu pela coragem de filmar uma história cheia de nuances e pelo esforço de ter conseguido o resultado final. Digo isso porque o filme não me tocou emocionalmente ou despertou em mim qualquer reflexão, mas ao final do filme me convenci de que ele talvez não seja feito para mim, talvez seja um filme de mulher para mulher, sobre mulher e por mulheres, e abordando assuntos sob perspectivas que talvez eu como homem nunca vá vivenciar. Talvez. Ou talvez o enredo seja realmente bem simples — apesar de profundo — e eu tenha criado grandes expectativas que se frustraram. Mas quero ficar com a primeira intepretação.
A “filha perdida” do título é apenas um rápido gatilho para que a personagem Leda, interpretada pela sempre digna de prêmios Olivia Colman, se desestruture emocionalmente em suas férias e comece a relembrar seu passado, em especial sua conturbada relação com suas filhas. Mas é também uma metáfora para uma relação de maternidade que embora ela tenha se esforçado muito não conseguiu construir. Então ligando cenas do presente com flashes do passado, a abordagem central do filme é questionar a velha visão de que toda mulher nasceu pra ser mãe ou deseja ser mãe. Ser mãe como um trabalho de 24h de expediente, sem final de semana, sem férias, sem salário e sem descanso. E não de um ponto de vista maniqueísta, mas com camadas, com sentimentos diversos, com situações diversas. E falando do passado da personagem Leda, máximo respeito para a atriz Jessie Buckley que faz a versão mais jovem da professora.
Mas meu grande problema com o filme — e talvez seja um problema do livro, mas um grande talvez — é a tentativa de criar um suspense que direciona para o nada. Na verdade o filme todo acontece na cabeça de Leda, então muitos dos momentos e das atmosferas criadas são impressões dela ou interpretações dela sobre o que “realmente” está acontecendo, e quando me dei conta de que isso era tudo foi realmente decepcionante porque eu estava envolvido na história de Leda, então esperava algum grande desfecho ou algum grande acontecimento. De todo modo, é um filme encorpado, é um filme que não alivia para os atores, e onde a diretora conseguiu com maestria extrair deles muito, às vezes sem uma palavra.